quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Energia elétrica e desenvolvimento no Piauí*


 É comum, atualmente, associar desenvolvimento somente a crescimento econômico, aumento de renda, industrialização ou avanço tecnológico. Em crítica a essas visões mais restritas, o economista e Prêmio Nobel, Amartya Sen, propõe uma concepção mais adequada de desenvolvimento, que deve ir muito além da acumulação de riquezas, do crescimento do PNB (Produto Nacional Bruto) ou de outras variáveis relacionadas à renda. Segundo ele, o desenvolvimento tem que estar relacionado, sobretudo com a melhoria das condições de vida e das liberdades desfrutadas. Assim, para ele a liberdade é o principal fim do desenvolvimento, sendo que a pobreza é vista como forma de privação de liberdades.
 
O acesso à energia elétrica na atualidade pode atuar como facilitador do processo de redução destas privações de liberdades, visto que pode permitir o funcionamento de uma infinidade de equipamentos, que por sua vez possibilitam melhorias no bem-estar das pessoas. A disponibilidade de energia elétrica, portanto, configura-se como um fundamental recurso facilitador da vida humana, uma vez que permite uma melhor qualidade de vida e um maior aprimoramento de seu trabalho.
Sabemos hoje que o PNB é o indicador mais utilizado para medir o desempenho de uma economia na produção de bens e serviços, por conseguinte, é muitas vezes associado ao consumo e à produção de energia. Contudo, indicadores sociais como o IDH podem estar fortemente correlacionados ao consumo de energia. Partindo desta prerrogativa, podemos fazer uma análise comparativa no Estado do Piauí entre o acesso à energia elétrica e o IDH. Dessa análise constatamos que há uma correlação entre os municípios com baixo acesso à energia elétrica e os municípios de menor IDH. Os casos extremos são os municípios de Teresina (maior IDH) e Guaribas (menor IDH), que apresentam respectivamente os maiores e menores índices percentuais de eletrificação. Assim, embora esta simples comparação entre indicadores não seja conclusiva, podemos inferir que existe uma relação muito estreita entre o acesso à energia elétrica e o desenvolvimento. No entanto, deve-se ressaltar que o simples acesso à energia elétrica não é suficiente para permitir o desenvolvimento de uma região, como muitos programas de eletrificação rural sugerem.
A realidade da zona rural piauiense não difere muito da de outros Estados do Nordeste, principalmente na região semiárida, onde os períodos de estiagem são mais prolongados e as consequências da seca são mais severas. Aqui, a disponibilidade de energia elétrica pode contribuir de forma satisfatória para a melhoria das condições de vida da população e para o desenvolvimento regional. Dentre os vários benefícios que a eletricidade pode oferecer para o sertanejo, um é essencialmente mais importante: o acesso à água potável. Além disso, a melhoria na qualidade de iluminação, o acesso melhorado à educação, saúde, abastecimento de água, geração de renda, etc. Neste contexto, o acesso à energia elétrica pode ser considerado como uma forma de liberdade e, portanto, está relacionado diretamente ao desenvolvimento. No entanto, embora exista uma relação entre o acesso à energia elétrica e o desenvolvimento, outros programas sociais devem estar associados aos programas de eletrificação rural. Para que os benefícios da eletricidade possam promover de fato reais melhorias nas condições de vida da população envolvida.

        * Texto publicado originalmente por Albemerc Moura de Moraes no dia 03 de maio de 2010 no jornal Meio Norte (Teresina - Piauí)
Relação entre o índice de eletrificação do Piauí e o IDH-M.
 

Um comentário:

  1. Considerando que a energia solar está disponível de forma absolutamente gratuita, perguntamo-nos por que o seu aproveitamento ainda é tão limitado no universo das energias renováveis? O problema é que a energia solar apresenta-se sob a forma disseminada e a sua captação, pelo menos para potências elevadas, requer instalações complexas e dispendiosas.

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